Sobre nós

O GRUPO

NÚCLEO ‘GIANCARLO STEFANI’ DE INVESTIGAÇÃO EM GRAMÁTICA E RETÓRICA, ANTIGAS E MODERNAS atua na pesquisa e no desenvolvimento de subsídios teóricos voltados para a compreensão, descrição, investigação, tradução, estudo e divulgação de textos relacionados tanto à retórica antiga romana e sua recepção e representação na modernidade, quanto à gramaticografia, especialmente mas não exclusivamente, greco-romana, e à teoria gramatical e suas formulações ao longo do tempo, com algum alcance nos dias de hoje. Em termos específicos, o grupo investigará os processos de constituição do discurso metalinguístico antigo e moderno, a fim de interpretá-los e contextualizá-los à luz da metodologia linguística pertinente, a saber, filológica, historiográfica e/ou sociolinguística.

 

Linhas de pesquisa

Linha 1 – Estudos de Retórica

Esta linha objetiva investigar textos latinos e gregos que versam sobre retórica, seu sistema e conceitos, e produzir estudos interdisciplinares, de acordo com a crítica literária pertinente, dos textos clássicos; traduzir, interpretar, estabelecer e apresentar textos sobre retórica, originalmente, mas não exclusivamente, escritos em latim e grego, através de uma abordagem ampla, em que pesem as análises filológicas, exegéticas e hermenêuticas, a fim de verificar e divulgar suas representações e influências no quadro maior dos estudos da linguagem humana; produzir material de consulta científica, de divulgação e didático; desenvolver projetos de iniciação científica e eventos de estudos clássicos; qualificar docentes para o ensino da língua, da literatura, da história e cultura greco-romana e fornecer o diálogo com outras áreas do conhecimento como Artes, Linguística e Estudos do Discurso em geral. 


Linha 2 – Gramática, Gramaticografia e Teoria Gramatical

Com esta linha, pretende-se, por um lado, resgatar e analisar os textos gramaticais do universo greco-romano, antigo e medieval, em latim, grego ou em português, sob um ponto de vista filológico e/ou historiográfico, a fim de reconhecer neles as circunstâncias de sua produção, o contexto de sua elaboração, o valor coevo de seus conceitos e a pertinência de suas contribuições à historia das ideias linguísticas e ao ensino de línguas. Por outro lado, a linha procurará, ainda, estudar em profundidade os elementos linguísticos, presentes nesses textos, agora acrescentando a produção gramatical contemporânea, passíveis de estudo e interpretação, como forma de contribuir para o conhecimento da evolução, estrutura e funcionamento da língua portuguesa, em particular, com vistas ao aprimoramento de seu sistema nas suas mais variadas manifestações, inclusive sociais, pedagógicas e funcionais.

SOBRE GIANCARLO STEFANI

GIANCARLO STEFANI nasceu em Grigno, na Itália, em 10 de dezembro de 1938. Na juventude, ingressou na vida religiosa, mais especificamente na congregação Companhia de Jesus, onde estudou filosofia e, depois, teologia no Instituto Teologico San Zeno, tornando-se padre jesuíta. Sua paixão pelas línguas começou ainda cedo, aprendendo outros idiomas além de sua língua vernácula, o francês, o espanhol, o português, o alemão, o hebraico, o latim e o grego. Chegou ao Brasil em 1966, no período da Ditadura Militar, centrando seu trabalho eclesiástico no Pará e no Amazonas. Seu engajamento pastoral, fundamentado em uma prática libertadora, inspirada na Teologia da Libertação, levou-o à organização de diversos sindicatos de agricultores na Região Norte, o que o fez experimentar a perseguição do regime militar. Após a saída da vida religiosa, casou-se com uma amazonense de Itacoatiara, a senhora Maria Líbia Neves Stefani, com quem teve quatro filhos: Cristina, Henrique, Márcio e Karen.
Em 1991, iniciou a carreira no magistério superior como professor visitante da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), enquadrando-se, depois, como professor auxiliar, com dedicação exclusiva à Instituição. Na UFAM, ministrou, inicialmente, as disciplinas de latim I e II e, em seguida, propôs uma mudança na matriz curricular, para inclusão de latim III. Com isso, conseguiu ampliar o conteúdo programático da disciplina no curso de Letras, que passou a contemplar o estudo de prosódia em latim I, de morfologia em latim II e de sintaxe em latim III. Ofereceu, ainda, como disciplinas optativas, grego I e grego II. Observando o interesse de alguns alunos matriculados nessa disciplina, dispôs-se a dar continuidade ao ensino de grego, gratuitamente, constituindo um grupo para estudo aos fins de semana. Seu gesto generoso incentivou estudantes a prosseguir os estudos clássicos mesmo
após a conclusão da graduação.
Giancarlo Stefani dedicou a vida ao conhecimento e ao compartilhamento do saber. Complementando sua formação, tornou-se Mestre em Letras pela Universidade Federal do Amazonas em 1998. O título de Doutor só não adveio em decorrência de questões burocráticas próprias do formalismo acadêmico. Contudo, quem teve oportunidade de conhecê-lo sabe que era, de fato, Doutor naquilo que se propunha a estudar. Quando lhe foi confiado o ensino da disciplina de semântica, traduziu do alemão para o português o livro Teoria cognitiva da semântica e realidade neuro-psicológica (2002), a fim de que os alunos pudessem conhecer uma perspectiva de análise ainda pouco estudada nos cursos de Letras. Antes, em 2000, com o intuito de compartilhar o conhecimento sobre gramática antiga, já havia traduzido para o português a Tékhne Grammatiké, a gramática de Dionísio Trácio, que, infelizmente, não chegou a ser publicada. Da mesma forma, seu curso de grego, Introdução ao grego clássico na universidade (2006), elaborado para ministrar, mais uma vez, o idioma aos interessados na cultura helênica, ainda se encontra pendente de publicação.
Em 2004, organizou o primeiro curso de Especialização em Língua e Literatura Latina da Universidade Federal do Amazonas, o que estimulou os participantes a continuar a pesquisa na área de estudos clássicos em nível de mestrado e de doutorado. Os que tiveram o privilégio de cursar essa especialização são testemunhas de que, cada aula ministrada pelo mestre Giancarlo daria um projeto de dissertação ou de tese, tal a qualidade do que produzia como roteiros de aula.
Sua contribuição ao estudo de línguas no Amazonas não se restringe, todavia, aos estudos clássicos. Desenvolveu, também, pesquisa na área de linguística indígena, estudando a língua geral, o nheengatu, analisando contos indígenas, vinculando-se aos estudos de etnolinguística, etnologia indígena e antropologia. Faz parte dessa área de pesquisa o livro Yauti na canoa do tempo: um estudo de fábulas do jabuti na tradição tupi (2000), resultado do prêmio recebido em 1998, por sua dissertação no concurso Nelson Chaves de Teses Sobre o Norte e Nordeste Brasileiro, da Fundação Joaquim Nabuco.
O mestre Giancarlo deixou-nos em 05 de junho de 2020, mas o seu legado e a sua paixão pelo estudo e pelo ensino de línguas, principalmente, de línguas clássicas, continuam vivos em cada discípulo em que ele conseguiu inspirar o amor aos clássicos.
Foi por essa razão que resolvemos homenagear esse grande mestre, apondo seu nome ao Núcleo “Giancarlo Stefani” de Investigação em Gramática e Retórica, Antigas e Modernas – NIGRAM